Bodas de Sangue – Parte I

Underdark. Num complexo de túneis escuros e quentes, uma pequena patrulha de Drows segue montada em aranhas gigantes. Estranhamente (para um Drow) esta não é uma missão de assalto à superfície em busca de novos escravos mas, sim, uma missão diplomática. Há cerca de quatro dias, Zara’nah D’Aratam (Alta sacerdotisa de Lolth) partiu de sua cidade Svartelfzan com seus dois irmãos Tarass’zt e Anub’arak, e uma pequena escolta de soldados elfos negros. Matrona Evilyn, líder da Casa D’Aratam, a incumbiu de convencer os Mind Flayers de Psychosera a formarem uma aliança. A sociedade dos elfos negros é puramente matriarcal e Zara’nah sabe que, se algum “acidente” ocorrer com sua “estimada” mãe, ela será a nova Matrona da Casa D’Aratam. Ela dificilmente conseguiria isto sozinha, então, obrigou os seus irmãos a acompanharem para testá-los.

Tarass’zt, um experiente Ranger de duas espadas, “tornou-se” o filho mais velho de Matrona Evilyn quando o primogênito Daemon morreu misteriosamente; Anub’arak, quarto e mais novo filho, afortunado por não ser o terceiro (já que o terceiro filho de uma matriarca sempre é oferecido em sacrifício à deusa Lolth), escolheu o caminho do assassinato e aparentemente tem um talento nato para tal.

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Mesmo na desolação do Underdark, ainda se é possível ouvir um ruído de um rio subterrâneo ou o som de alguma criatura, mas o que chama a atenção dos Drows é o silêncio sepulcral da cidade dos Illithid (como também são chamados os Mind Flayers), Psychosera, é muito úmida (sendo os Illithids basicamente anfíbios) e possui uma parca iluminação vindo de fungos fosforescentes espalhados pelas paredes da maioria das construções. A arquitetura é absurdamente alienígena e vai ser difícil para qualquer um dos Drow (ou qualquer outra criatura) tentar descrevê-la. A comitiva é recepcionada por um Illithid gigante com seis (ao invés dos quatro) terríveis tentáculos habituais das infames criaturas: um Ulitharid, um Mind Flayer com uma mutação que ocorre em um a cada vinte mil, assim considerado um escolhido. “Saudações” diz na língua dos subterrâneos com uma voz profunda e úmida pouco acostumada a proferir palavras, já que todos os Illithids são telepatas.

“Saudações da Casa D’Aratam! Viemos em paz e trouxemos oferendas” retruca Zara’nah, desmontando de sua aranha e fazendo uma mesura. Ela sinaliza na linguagem dos sinais dos Drow e os soldados retiram do cefalotórax das aranhas três humanos vivos amarrados com teias e amordaçados.

Os tentáculos do Ulitharid se contorcem de forma a mostrar excitação. Com um comando mental, ele ordena que seus escravos bugbears arrastem os prisioneiros para uma das construções da cidade. “Poucos humanóides não-Illithid tiveram a honra de participar da Ceremorfosis sem serem o alvo do sacrifício” relata o Ulitharid enquanto pede que os três drows da nobreza o sigam.

Os humanos, duas fêmeas histéricas e um guerreiro macho, são acorrentados em uma parede pelos pulsos e no pescoço (para limitar a mobilidade deste). Um outro Mind Flayer traz, em uma espécie de cálice cerimonial cheio de um líquido viscoso, três larvas giriniformes de cerca de sete centímetros cada. Os bugbears forçam as duas fêmeas a abrirem suas bocas e, em cada uma, é colocada uma das larvas que fazem um som asqueroso e agonizante. “Eis a Ceremorfosis! As larvas devoram seu caminho até o cérebro da vítima. Uma vez lá, elas se alimentam da massa encefálica e crescem proporcionalmente de tamanho até ocuparem todo o crânio. Tentáculos gradualmente refiguram a face da vítima e, quando isto ocorre, um novo Illithid nasce.” Explica.

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Antes que o guerreiro humano seja sacrificado, Zara’nah, hábil e inteligentemente, pede para finalizar o ritual. O Ulitharid pensa por poucos instantes e então lhe entrega a pinça com a qual retirava as larvas do cálice. Zara’nah sinaliza ao bugbear para se afastar, entoa uma pequena prece a Lolth e conjura teias negras mágicas que sugam a energia vital e enfraquecem o humano. Gentilmente, Zara’nah abre a mandíbula do guerreiro e introduz a larva em seu interior.

O Cérebro Ancião está satisfeito! No entanto, ainda tenho um pequeno teste antes de consolidar nossa aliança… Avra Thunderbrick hoje completa cem anos de casamento com o rei do clã Thunderbrick, o anão chamado Angurad. Conseguimos informações que ela está se preparando para o evento em uma localidade secreta, ou pelo menos é assim que os presunçosos anões pensam. Não podemos realizar a Ceremorfosis em anões e os Thunderbrick tem diminuído consideravelmente nossos números. Quero que vocês tragam Avra Thunderbrick ainda viva pra nós. Eu mesmo quero devorar seu suculento cérebro de Maga.”

Na torre seclusa do clã Thunderbrick, a rainha Avra irradia felicidade. Ela contratou as melhores alfaiatas Gnomas que o ouro pode pagar.

“O prateado combina melhor com seus olhos, Milady” diz uma das alfaiatas enquanto conjura uma ilusão de um pomposo vestido prateado com sua varinha.

“Humm, talvez, mas o dourado e o vermelho são as cores de nosso clã” raciocina a rainha-maga. “Onde está Ongul? Onde está meu guarda-costas? Ele sempre tem opiniões tão boas.” pergunta a um guarda vigiando os aposentos.

“Ongul tinha preparado uma surpresa para Vossa Majestade mas ele a esqueceu em Nidavelir, Milady. Tivemos que convencê-lo de que cuidaríamos bem da sua segurança, Majestade”. Reverentemente responde o guarda.

“Certamente. Tenho certeza que estou perfeitamente segura aqui. Agora que tal experimentarmos dourado e prateado…”

Ela não ficaria tão despreocupada se pudesse enxergar na escuridão do Underdark um grupo de elfos negros montados em aranhas gigantes e observando a torre à distância…

Continua…