Ele acorda sobressaltado. Está sozinho. O chão do túnel onde estava deitado é irregular e muito frio. As paredes desse túnel são feitas de uma espécie de cristal escuro que absorve a luz ao invés de refleti-la. Ele cruza suas pernas uma sobre a outra, se concentra e tenta conter sua aversão em ficar sozinho. Apesar de ter crescido na Ordem, o instinto milenar de bando ainda corre em suas veias já que, onde sua raça habita, os que não andam em grupos podem ser devorados por vorazes predadores. Subitamente, o sentido de ecolocalização proporcionado por seu par de chifres ocos capta um movimento nas proximidades. Rama-Vatar está sozinho, com frio e sendo caçado.
Rama não está desarmado, no entanto, sabendo que tem poucas chances em um confronto direto, se levanta e corre na escuridão túnel a dentro. Em sua terra natal, sua raça é conhecida por andar sempre descalça (como um meio de ficar em conexão espiritual com terra) mas aqui seus pés desnudos são feridos pelo terreno pontiagudo; sua vontade é mais forte que a dor física e ele segue por corredores labirínticos tentando fugir da fera. Sua ecolocalização percebe uma caverna bem mais ampla alguns metros à frente. Entrando nesta caverna, nota que há alguma iluminação vindo da própria parede (pequenos cristais multicoloridos), e consegue já enxergar parcamente o tom laranja-avermelhado de sua pele bem como as listras azuladas nos dois tentáculos (prolongamentos de seus chifres) que se estendem sobre seu tórax musculoso. Rama consegue ver, por sobre o túnel que usou como entrada para a caverna, um pequeno parapeito natural que pode usar para surpreender seu caçador e à esquerda, um imenso abismo. Com agilidade natural e destreza impressionante, ele escala facilmente a parede irregular e fica à espreita.
Pouco tempo se passa até que uma criatura esguia e silenciosa entra na caverna. Um quadrúpede peludo maior que um humanoide, com garras em riste e prontas para dilacerar a carne macia de suas vítimas, dois pares de olhos negros sem pupilas, uma cauda coriácea bifurcada e uma mandíbula do tamanho do braço de um homem adulto cheia de dentes pouco menores que uma adaga. Rama, imóvel, observa a criatura caminhando em direção ao centro da ampla caverna.
“O que?” sussurra Rama. Um filhote da mesma raça que a sua anda despreocupado, brincando com um pequeno objeto luminoso e a poucos metros do silencioso caçador. Sem titubear, Rama focaliza sua mente em uma rocha no chão, aponta para a fera e a rocha é arremessada telecineticamente em sua direção a afastando do filhote e a atordoando momentaneamente. Rama faz uma acrobacia, pousa no solo da caverna e corre rápido como um relâmpago em direção ao filhote. Já próximo, ele tenta agarrar o filhote (um macho, ele nota, com seus chifres ainda em formação) mas é como agarrar algo insubstancial como um fantasma. Seus sentidos disparam quando a fera se recupera e pula em sua direção. Ele não consegue segurar a criatura com sua telecinesia porém é capaz de desviá-la de seus órgãos vitais, tendo apenas seu braço quase arrancado por uma das garras. “Corre!” grita para o filhote mas este parece não perceber o perigo e continua brincando com o pequeno objeto. Rama-Vatar se vira para encarar a criatura, se concentra e consegue ver na sua mente os melhores pontos fracos para acertar a criatura ao mesmo tempo em que nubla os seus pontos fracos na mente dela. Ela parece confusa mas, mesmo assim, avança. Ele é mais rápido ainda, entra na mente da criatura, altera suas percepções sensoriais e prepara a finta. Ela morde com sua potente mandíbula, pensa ter atingido sua presa, entretanto atinge só o ar; Rama aproveita a distração, perfura dois dos quatro olhos da fera, pula por cima dela e termina seu movimento ginasta montado nela. Enlouquecida pela dor do ferimento, se debate, tenta arremessar Rama de seu flanco só para ter seus dois olhos restantes furados. Ele segura firme na pelagem da fera cega, a guia até o abismo mas não consegue pular antes de os dois caírem.
Segurando com o braço machucado numa rocha, ele olha para baixo; a fera caindo descontroladamente.
O abismo parece tão acolhedor e quente, diferente da caverna fria e nada amistosa. Rama não ouve os ossos da criatura quebrando no fundo do abismo e, por um instante, relaxa seus dedos e pensa no quanto seria fácil se entregar à segurança do abismo…mas ele foi bem treinado então resiste e começa a escalar a encosta.
Exausto e ferido, Rama-Vatar chega à beira do abismo e encontra o pequeno filhote que agora, com ar de satisfação, estende sua mão e lhe entrega seu brinquedo: um Cristal Ilum azul.
Rama-Vatar acorda de seu transe. Está usando as vestes, o sobretudo e as botas de couro negro comuns aos membros de sua Ordem e, em suas mãos, segura um objeto metálico cilíndrico. O jovem Togruta sabe que tudo pelo que passou foi em terreno mental e que, a cada desafio conquistado, uma parte de seu Sabre de Luz era construído. Sentindo a dor do ferimento em seu braço, ele se levanta e encara sua antiga Mestra, Jali Tulang-Sul. Uma Nautolan austera e poderosa que poucas vezes demonstrou tanta alegria quanto hoje.
“Seu treinamento está completo, Cavaleiro Jedi Rama-Vatar.” ela diz.
Ele liga seu Sabre de Luz com lâmina azulada pela primeira vez e o cheiro de ozônio permeia o ar…