Num aposento escuro e úmido existem duas grandes mesas de pedra. Sobre essas mesas dois seres humanoides estão amarrados nos tornozelos, na cintura e nos pulsos, sendo que o braço direito de cada um está preso junto ao corpo e o esquerdo encontra-se estendido perpendicular ao tronco. Um deles, um humano, está morto com uma espada longa cravada em seu peito; o outro, um Tiefling, está amordaçado e cercado por quatro criaturas encapuzadas com longos mantos negros.
Silenciosamente, uma das criaturas se dirige à outra mesa, retira a espada do humano morto e retorna ao seu lugar ao redor do Tiefling. Com a mão direita, eleva a espada alto no ar e, com um golpe súbito, decepa a mão esquerda do Tiefling no exato ponto marcado por runas tatuadas na pele dele, recitando “Siht tfel dnah ew reffo ot eeht retsam fo egdelwonk“. Ele suporta a dor estoicamente e as quatro criaturas se entreolham com um ar de aprovação. A mão decepada, ainda espantosamente viva e fazendo movimentos leves, é recolhida num cesto.
Outra das criaturas tira de um bolso em seu manto uma faca com lâmina extremamente curva e abaulada. Os olhos do Tiefling encaram a terrível lâmina e sua respiração fica muito mais ofegante.
“Ele necessitará de contenção mágica!” diz um dos encapuzados. “Dloh nosrep” profere, apontando o indicador da mão direita ao tiefling que instantaneamente é paralisado. O ritualista portando a lâmina se aproxima do prisioneiro e, com uma precisão impressionante, extrai o olho esquerdo do Tiefling clamando “Siht tfel eye ew reffo ot eeht retsam fo yretsym”. Mais uma vez, os quatro se entreolham com satisfação redobrada. “Ele sobreviveu ao ritual”. A órbita extraída, disparando olhares para todos os lados na mão do ritualista, é colocada no mesmo cesto onde está a mão cortada.
“Sim” retruca outro e aponta para as amarras que se soltam.
Shagrath, o Tiefling, levanta da mesa se esforçando para aguentar a dor de ter seu olho e mão esquerdos removidos. Ele caminha cambaleante até os quatro ritualistas e se ajoelha reverente. “I timbus flesym ot eeht gnik fo sehcil” diz sorridente. Repentinamente, Shagrath nota que consegue enxergar perfeitamente na penumbra, o coto amputado de sua mão esquerda não está mais latejante e ele sente a energia necrótica correndo em suas veias.
Apenas os que sacrificam, voluntariamente, o olho e a mão esquerdos são vistos como verdadeiros fiéis e podem se tornar iniciados completos na secreta Ordem de Vecna. Malditos aqueles que tentarem cruzar o caminho de Shagrath agora.