O Dr. Patrick Cassels, o jovem psiquiatra, está confuso com tanto álcool que ingeriu. Ele não acredita no que está vendo (e nem no que acha ter acabado de presenciar): Tudo está nebuloso em sua mente, mas ele poderia jurar que primeiro uma mulher morena linda o estava arrastando para longe de sua festa, depois tudo foi tão rápido quando uma outra mulher de pele azul e com vários braços o tocou e ele desapareceu de onde estava.
Quando ele olha ao seu redor, ele percebe que está na sala da casa de sua namorada Jenny. Ele já teve alterações de memória antes quando abusou do álcool, porém nada lhe pareceu tão intenso ou realista. Qualquer outra sensação de deja vù é destroçada quando ele sente novamente a dor em seu antebraço provocada pelo círculo marcado nele e percebe que uma mulher de traços indianos que ele nunca viu está deitada no chão, desacordada.
Uma descarga de adrenalina criada pelo susto da situação dissipa um pouco a sua embriaguez e ele imediatamente checa os sinais vitais dela. Ela está viva e, aparentemente, bem.
“Mas como eu vim parar aqui?” Ele suspira, senta no chão e pergunta a si mesmo. “Como isso foi acontecer?”
“Eu procurei em sua mente um local que lhe era familiar, seguro e longe de onde estávamos e nos trouxe para cá.” A mulher acorda, põe as mãos na cabeça, se levanta e se senta em uma poltrona próxima. “Eu gostaria de uma aspirina, por favor.” Ela ainda está cambaleante e com um ar exausto. Está massageando suas têmporas.
“O quê? Quem é você?”
“Bem, você pode me chamar de Kali. Eu sou uma super-heroína.”
“Vo-você é era moça com a pele azul?”
“E com seis braços. Exatamente. Agora, por favor, me traga uma aspirina.”
“Sim, sim, claro.” Ele vai até a cozinha e procura o medicamento.
O ponto auricular de Kali toca, aumentando sua dor de cabeça. “Kali falando.”
“Kali, como você está? Onde você está? E o doutor?”
“Wonder Amazon, estou bem, assim como o doutor. Peça as minhas coordenadas ao IST e se teleportem para cá.”
XXX
Pouco tempo depois, neste mesmo dia.
“Bem, obrigada por nos receber, doutor.”
“Claro, Wonder Amazon. Mas eu realmente não sei por que esta Medéia estava atrás de mim. E Jenny está viajando, posso ficar aqui por algum tempo se vocês realmente acham necessário.”
“Ótimo! Boa noite! E qualquer coisa, ligue para este número. Eles sabem como nos achar.” A heroína entrega ao jovem médico um pedaço de papel com o número público do IST.
Os heróis saem da casa.
“Eu nunca tinha sido transformado antes…” O pistoleiro desabafa.
“É verdade, nem eu.”
“Rapazes, se eu conheço bem Circe e Medéia, ter transformado vocês foi o mínimo que essas bruxas poderiam ter feito.” A heroína grega responde.
“O que me faz perguntar: Por que você também não se transformou, Anne?” Kali pergunta, curiosa. “Não me lembro de você ser exatamente resistente à magia.”
“Bem, eu também não faço idéia.”
Nenhum deles nota, no entanto, que estão sendo observados à distância (uma distância incrível) por dois seres misteriosos…
XXX
Dezoito de Dezembro de 2009. Residência de Anne Teophylaktos. 9h00 a.m.
“Dois advogados, um policial e um médico. Todos homens. O que mais eles tinham em comum?” Raciocina True Shot Jack.
“Faziam aniversários em datas próximas. Os gêmeos faziam dia trinta de Novembro, o policial e o médico, ontem.” Responde Duplo-Etéreo.
“Todos eram do mesmo signo zodiacal.” Completa Kali, agora já quase totalmente descansada. “Todos de sagitário.”
“Tudo resolvido então. Só o que temos que fazer é descobrir todos os sagitarianos de Boston e protegê-los.” Debocha o pistoleiro.
Os três outros heróis o olham, sérios.
“Ok. Ok. Desculpa.”
“Jack tem razão.” Wonder Amazon finalmente diz. “Nós não temos como esperar Medéia fazer um novo ataque, não temos como descobrir rapidamente quem será sua próxima vítima.”
“Temos que atacar antes!” O telepata brasileiro fala. “Vou iniciar um scan psíquico imediatamente. A minha telepatia tem alcance global e eu recordo o padrão psíquico do escudo mental da bruxa, talvez eu possa achá-lo novamente. Isso pode levar algum tempo, mas é como eu posso ajudar agora. Wonder Amazon, posso ficar num cômodo privado? Ajudaria na minha concentração.”
“Claro, a sala de estudos é a segunda porta à esquerda. Fique à vontade.”
Fabiano, no controle do corpo no momento, segue as instruções da anfitriã. Ele entra num pequeno cômodo, uma mesa de mogno no centro com uma poltrona confortável de couro à sua frente. Uma miríade de livros, novos e antigos, modernos e clássicos, cópias e originais completam o aposento. Ele se senta na poltrona e começa a se concentrar com a ajuda de seu irmão André, na sua mente.
“Kali, quando você entrou na minha mente e na do detetive, você nos mostrou imagens antes da morte do policial. Você conseguiu ver o que o matou?” A amazona pergunta.
“Mais ou menos, a mente de alguém prestes a morrer é confusa e desconexa, no entanto eu vi a imagem de um leão, um leão com chifres curvos e vi a sombra de algo semelhante a uma serpente.”
“Uma Quimera! Então Medéia está tentando evocar uma Quimera. Temos que impedi-la. Vou comunicar o que descobrimos a Richard.”
“Richard? Ahh sim, você que dizer o detetive Alvez, não é?”
“Sim, Kalima, claro.”
Kali não vê, porém ela sabe que a amazona acostumada a enfrentar monstros e deuses está corando por baixo de sua armadura dourada e prateada…
XXX
Dezenove de Dezembro de 2009. 6h30 p.m.
Richard Alvez entra em seu apartamento simples e aconchegante em Mission Hill, um distrito de Boston renomado por ser amistoso e por abrigar muitos descendentes hispânicos. Cansado de mais um dia corrido de trabalho (e felizmente sem nenhuma outra pessoa assassinada horrivelmente), ele joga as chaves de seu carro na mesa, tira seu casaco e o pendura em um gancho no closet.
De repente, ele nota movimento na pequena sala, saca sua arma e assume uma posição defensiva. Richard se aproxima da sala, acende a luz e encontra uma mulher morena sentada no sofá ao lado da lareira.
“Quem é você, moça? Como entrou aqui?” Ele notou quem nem a porta nem as janelas foram forçadas.
“Ora, detetive, se nós estivéssemos na Grécia antiga e você tratasse um hóspede assim, eu poderia exigir um castigo a você. Ainda mais alguém com sangue divino como eu.”
“Medéia!”
“Você é mais perspicaz do que aparenta.”
“Você está presa pelas mortes no Colar de Esmeraldas. Renda-se agora ou eu serei obrigado a atirar!”
“Nós dois sabemos que você não vai atirar. E, mesmo que atirasse, você realmente acha que essa arma mundana patética me faria algum mal?” A bruxa sorri maliciosamente.
O detetive pensa rápido, atira na lâmpada, aproveita o átimo de escuridão e surpresa e tenta fugir de seu apartamento; só para ter seu corpo arremessado contra uma das paredes com um mero aceno de mão de Medéia.
“Esperto, mas nem tanto assim.” Ela brinca e aponta para o detetive prostrado ao chão.
O antebraço direito dele arde em dor pungente e agora ele tem um círculo místico marcado nele. Medéia nota que, ao contrário de suas outras vítimas, as runas ao redor e dentro do círculo brilham fulgurantemente.
“Você era quem eu procurava. As entranhas dos animais me disseram que eu o encontraria em Boston.”
“Como-como assim? Você está louca!”
“Você é meu Belerofonte.”
“O QUE? Eu me chamo Richard, nem tenho nenhuma descendência grega.”
“Mortal tolo. Você é apenas um símbolo. Um símbolo de alguém que é honrado e puro.”
“Eu não sou puro!”
“Oh, querido, é sim! Se não fosse puro, a fera já teria se materializado e o destruído. Você será o sacrifício perfeito para atrair a Quimera definitivamente para esta realidade novamente.”
“Por que eu?”
“Belerofonte tinha as mesmas características de alguém que seria classificado nos tempos modernos como sendo do signo de sagitário: o espírito aventureiro, a temeridade e a indulgência que todos os heróis costumam ter; e a prepotência, que só alguém que tenta alcançar o Monte Olimpo tem. O sagitário é um signo de fogo e no fogo da Quimera você vai arder!” Ela ri maniacamente. “Agora vejamos em que você vai se transformar: Vertere Anima!”
A bruxa aponta para o detetive e ele se transforma…
XXX
Vinte e um de Dezembro de 2009. Residência de Anne Teophylaktos. 5h00 p.m.
“Richard está desaparecido há quase quarenta e oito horas. Estou preocupada.” Wonder Amazon confessa.
“Ele não poderia ter viajado?”
“Não enquanto estes crimes seriais estão ocorrendo. Eu conheço Richard.”
“Wonder Amazon, eu não consegui achar nada na minha varredura psíquica. A mente dela é escorregadia. Ela deve ter arrumado algum meio de camuflar seu escudo mental para dificultar a detecção.” O poderoso telepata brasileiro comunica. Ele tem um ar cansado.
“Tenho certeza de que você fez o que pôde. De qualquer maneira, eu vou investigar o apartamento de Richard.”
“Não se preocupe. Deixe que eu investigue o paradeiro do detetive, ok?” O cowboy tenta a acalmar.
“Tudo bem, Jack. Obrigada.”
True Shot Jack toca seu ponto auricular e pede para ser teleportado para o endereço que Wonder Amazon lhe dá. Poucos segundos depois, ele desaparece.
“Onde Medéia pode estar?” Duplo-Etéreo pergunta retoricamente.
Ela gosta de animais, não é? E todos os crimes ocorreram no Colar de Esmeraldas, certo? Será que…
“Sim, André está certo. Wonder Amazon, há algum lugar nos parques do Colar de Esmeraldas em que ela possa se esconder?” Raciocina o herói brasileiro.
“É claro! Como eu não pensei nisso antes? Tecnologia atrapalha magia e vice-versa.”
“Por isso ela procura fazer seu ritual em lugares mais selvagens.” Completa Kali.
“Existe um zoológico no Franklin Park. Talvez lá seja um bom lugar para investigarmos.”
Porém antes que a amazona solicite teleporte, seu ponto toca. É True Shot Jack:
“Não tenho boas notícias. O apartamento tem sinais claros de conflito e os jornais de dois dias se acumulam na porta.”
“Obrigada, Jack. Encontre-nos nessas coordenadas.”
Kali se aproxima da heroína grega e sussurra:
“Antíope, hoje é o Yule, não é?”
“Sim.”
“Querida, qual o signo de Richard?”
As duas super-heroínas se entreolham preocupadas.
XXX
No mesmo dia. 6h00 p.m.
O Franklin Park é o maior parque que faz parte do Colar de Esmeraldas. Só o zoológico (localizado na porção noroeste do parque) tem quase trinta hectares de área e é um dos mais antigos da América do Norte. No inverno, os animais não costumam sair muito de suas tocas e a direção do parque prefere fazer todas as reformas necessárias nesta estação do ano.
Os heróis são teleportados para os limites do zoológico. É noite e o local estaria vazio (fora do expediente dos trabalhadores) salvo pelo fato de, estranhamente, Duplo-Etéreo notar que alguns instrumentos de pintura e construção estão jogados no chão sem seus donos. Ele aponta e mostra aos outros o achado.
Wonder Amazon, os pontos auriculares não estão funcionando. Estou estabelecendo um elo mental entre nós quatro. Fabiano fala na mente da amazona.
Nós cinco, irmãozinho. André fala com ar ultrajado.
Ótimo.
E com o assentimento da líder do grupo de heróis, todos bastam pensar para se comunicar telepaticamente uns com os outros.
Farei um vôo de reconhecimento. E Duplo-Etéreo ganha os céus enregelantes.
No solo, é True Shot Jack quem primeiro percebe as sombras rosnantes se mexendo. Ele adverte o resto do grupo no momento em que uma turba de rinocerontes, leões, tigres, lobos e gorilas raivosos os cercam. No ar, o telepata brasileiro é igualmente rodeado por ferozes gaviões-harpia.
Cuidado! Eles podem ser ou operários transformados ou animais sob o controle de Medéia. A heroína grega adverte. Não os machuquem!
Diga isso pra eles! E o cowboy de outra dimensão lança uma saraivada de tiros no solo à frente dos animais, os impedindo de se aproximar.
No ar, o herói sul-americano nocauteia seus adversários, mas sua psicocinese não os deixa caírem no solo com brutalidade. Wonder Amazon neutraliza habilmente a investida de dois rinocerontes.
Já estou farta dessa bruxa manipulando pessoas e animais. Kali também é uma divindade do terror e a heroína se envolve numa aura de medo. O efeito desta aura afeta apenas quem Kali deseja, mesmo assim os seus aliados sentem algo desconfortável ao notar a heroína Hindu parecer mais intimidadora e terrível (é como se ela realmente aumentasse de tamanho). Os animais não têm tanta sorte e se sentem como filhotes enfrentando o mais hediondo dos predadores. Todas as feras fogem desesperadas.
Uau. Me lembra de não cruzar a Kali quando ela estiver naqueles dias. André pensa.
André, ainda estamos no elo mental. O irmão o lembra.
… Err, humm… Ok. Desculpa, Kali
Tudo bem, rapazes. Vamos acabar logo com isso. Ela acalma.
Eu acho que consigo ver algo daqui de cima, pessoal. O telepata, ainda no ar, os informa.
XXX
Seguindo as direções de Duplo-Etéreo, os heróis do IST conseguem visibilizar a bruxa. Eles se escondem no parapeito do fosso dos leões que Medéia tomou para si. Na mão direita, ela segura uma adaga cerimonial grega gotejando sangue. A mão esquerda afaga o dorso musculoso de um gigantesco Doberman se alimentando dos restos de um homem jovem estendido no chão frio. Preso à sua cintura, há um saco branco ensanguentado pelo seu conteúdo macabro.
Wonder Amazon prende o fôlego com a possibilidade de aquele ser o corpo de Richard.
Todos notam também um círculo desenhado com sangue no chão de pedra com alguns flocos de neve, um círculo de conjuração semelhante àqueles marcados nos antebraços das vítimas de Medéia.
O que nós estamos esperando? Pergunta o pistoleiro.
Estamos esperando uma vantagem que possamos aproveitar. Vamos cercá-la. Vai ser mais difícil para ela mirar seus poderes. A experiente amazona planeja. Os heróis seguem suas ordens.
Wonder Amazon, Eu tenho um plano. Fala Jack na mente dos amigos. Mas eu vou precisar do seu amuleto mágico e de mais ajuda. Kali, você acha que consegue fazer o que eu estou pensando?
Humm. É provável que sim. Os outros heróis sentem o avatar Hindu pensando em mandalas e fórmulas místicas se preparando para fazer este encantamento.
Estou na sua mente, Jack. Eu sei o que você está pensando. Acho que pode nos dar algum tempo, mas tome cuidado. Ah sim, para você fazer o que você quer tem que pronunciar estas frases que eu estou pensando.
“Venha para este plano material, espírito triplo. Triplo como a deusa Hecate a quem sirvo. Nesta noite, a mais longa do ano eu lhe evoco, besta ígnea.” Medéia inicia o ritual. “E lhe ofereço este sacrifício, um sacrifício de carne, da carne do seu assassino, o humano chamado Belerofonte!” E a bruxa levanta a adaga, porém antes que alguma coisa aconteça, os heróis do IST atacam. Cada um de uma direção.
Medéia interrompe o ritual e conjura uma força invisível centrífuga que atrapalha o avanço dos heróis, menos o de Wonder Amazon, que resiste ao encantamento.
“Você de novo, cadela? Como consegue fazer isso?” A bruxa pergunta perplexa ao perceber a ineficácia de seus feitiços contra sua inimiga.
O Doberman, querendo proteger a sua mestra, corre na direção da amazona com os dentes à mostra e a boca manchada de sangue, no entanto é rechaçado com facilidade pela guerreira, batendo na mureta próxima e caindo inconsciente. Assim que ele fica desacordado, ele assume a sua verdadeira forma: o detetive Richard Alvez. Ele veste uma toga grega e, para o horror de Wonder Amazon, ainda tem a boca suja com sangue. A heroína corre na direção do amigo no chão pedregoso. Isso era o que a bruxa planejava e ela reassume o ritual.
“Venha criatura tripla, a serva de Hecate lhe ordena!” Medéia arremessa no meio do círculo o saco preso na sua cintura. Ele se abre e revela três corações humanos. A bruxa cambaleia, enfraquecida, tamanha é a energia utilizada para finalizar o ritual.
O chão treme, as linhas sanguinolentas na pedra agora estão rutilantes e o cheiro de carne queimada impregna a narina de todos.
Surge uma criatura de cerca de três metros de altura, terrível, com uma cabeça de leão com a juba em chamas, ela tem chifres retorcidos como os de um demônio, quartos traseiros de um bode, a cauda é, na verdade, o serpenteante corpo de uma víbora do inferno: A Quimera.
“Alimente-se de Belerofonte e ficarás para sempre neste plano!” Medéia aponta para Wonder Amazon segurando o detetive desacordado.
A besta mágica rosna e encara a heroína mais famosa de Boston e, nos braços dela, um homem que a fera acredita ser o próprio herói que tirou a sua vida há tantos séculos. Wonder Amazon é a detentora das Botas de Aquiles, ao seu comando mental, ela ativa a magia das botas e toda a rapidez do herói grego a inunda. Ela age tão rápido que até mesmo a Quimera é pega de surpresa. A amazona escala os muros do fosso dos leões com facilidade, tendo seu amigo preso nas suas costas.
A Quimera pula em direção à amazona, mas um tiro nas costas lhe chama a atenção. A fera mítica se vira e se depara com uma cena que já tinha visto há séculos atrás: Um homem jovem vestindo uma toga a atacando das alturas e montado em um cavalo alado. Ela esquece completamente de sua presa antiga e muda o trajeto de seu pulo para matar quem ela acredita ser o ‘verdadeiro’ Belerofonte montado no Pegasus.
Ela é um animal inteligente, mas ainda é um animal. Ela caiu na minha mentira, pessoal. Vou levar ela pra longe daqui! True Shot Jack ainda está impressionado com a perfeição da ilusão que Kali criou nas suas roupas. Ele realmente acha que está usando uma toga grega (o tecido é macio e muito leve) e até mesmo o vento ele sente nas suas pernas (pernas que ele sabe estarem cobertas pela sua calça habitual). Ele conjurou seu amigo Pegasus usando o amuleto mágico de Wonder Amazon. Como ele sente falta de cavalgar…
Cara, esse cowboy é demais. É meu novo ídolo, Fabiano! André pensa.
Hehehe, tudo bem, André, agora vamos nos concentrar. Duplo-Etéreo voa seguindo a Quimera.
Wonder Amazon procura Kali para levar seu amigo para longe dali.
Eu não consigo teleportá-lo, Antíope. Medéia deve ter colocado nele algum feitiço impedindo teleportes.
Tudo bem, Kalima, vamos fazer isso juntas. A heroína grega tenta esconder Richard num lugar seguro (o mais seguro disponível, pelo menos) e volta para enfrentar Medéia juntamente com Kali.
O avatar da deusa da morte Hindu voa e lança uma rajada telecinética na bruxa. O escudo desta detém o ataque.
“Acha mesmo que podem me deter?”
“Sinceramente? Eu acho!” Wonder Amazon investe contra a bruxa e seus socos mais uma vez destroem seu campo de força. A inimiga voa em tempo de evitar ter seu pescoço agarrado mais uma vez. “Desfaça a evocação!”
“NUNCA!”
Kali se concentra e aponta seus seis braços na direção de Medéia. “Durbhagya!”
Ela diz e uma pequena caveira aparece na testa da bruxa.
“Talvez eu não possa afetá-la diretamente com meus feitiços, cadela dos deuses. Mas eu posso indiretamente.” Ainda voando, ela acena para o nada e toneladas de rochas e detritos flutuam e soterraram Wonder Amazon no fosso. “Agora somos eu e você, bruxa azul!”
Medéia lança feitiço atrás de feitiço em Kali, no entanto nenhum sequer consegue chegar perto do avatar, e Kali nem está se desviando (?!). Por mais que a bruxa grega se concentre, ela está cometendo erros de um aprendiz e amaldiçoa e desintegra tudo ao redor, menos a heroína Hindu.
Longe dali, Jack montado no Pegasus tenta fugir o mais rápido que pode da Quimera, porém os pulos dela são fantásticos e ela tem um olhar assassino. Em um dado momento, ela abre a boca, cospe um jato de fogo no pistoleiro e no cavalo alado, e os acerta em cheio.
Os dois caem, feridos (e o Pegasus com as asas queimadas). A ilusão de Kali se desfaz. Quando os dois atingem o solo, o monstro pousa atrás deles e abre novamente a bocarra maldita. Jack pode sentir o calor prenúncio de sua morte iminente e, no momento em que a fera lança seu hálito mortal, True Shot Jack e o Pegasus não são afetados por nada.
No último instante, Duplo-Etéreo aterrissa entre a criatura mítica e seus amigos e contra-ataca a baforada ígnea com um pulso telecinético, os protegendo.
“Volte para o amuleto, meu amigo, aqui não é mais seguro para você. Piso tora Pegasus. Muito obrigado” E o pistoleiro manda o cavalo alado de volta ao Amuleto de Perseus com o cantrip em grego.
“Jack, Eu-eu não sei…. por quanto tempo… posso… aguentar.”
O cowboy pega suas pistolas caídas no chão e atira em um galho em cima do monstro. Uma grande quantidade de neve é derramada na Quimera, interrompendo seu ataque e apagando as labaredas que ela tinha por juba.
Garotas, precisamos de ajuda. Estamos só nos mantendo vivos! André fala pelo elo.
Kali já está ficando cansada com as rajadas místicas de Medéia.
“O sangue de Apollo corre nas minhas veias, eu posso lançar feitiços em você eternamente!” esbraveja a bruxa.
Antíope, não tenho mais reservas de poder. Minhas maldições de azar não vão durar muito tempo. Cairei em instantes. Como você está? Kali tenta achar a mente de sua amiga soterrada.
Kali ergue um campo de força que neutraliza a maior parte da última rajada mística de Medéia, no entanto, ela cai no chão com a força do golpe. Kali se teleporta.
“Isso mesmo, fuja, vaca azul! Ha ha ha.”
“Isso não foi uma fuga, sua idiota, foi uma retirada estratégica.”
Kali surge do nada atrás da bruxa, no ar, carregando consigo uma certa heroína grega coberta por detritos rochosos. A assassina é pega desprevenida e, quando os punhos da amazona se cerram com toda a força dos Braceletes de Heracles que usa, o golpe é tamanho que a bruxa cai inconsciente, após seu escudo mágico ser rachado mais uma vez.
Garotas, precisamos de ajuda. Estamos só nos mantendo vivos! André fala pelo elo.
As duas super-heroínas se teleportam mais uma vez.
As duas chegam onde estão os outros heróis. Duplo-Etéreo está voando, se desviando de jatos fumegantes e tentando atacar a fera. True Shot Jack está em maior perigo: a cauda-serpente o agarrou e o está esmagando aos poucos. Ele ainda segura suas Colt Diamondbacks com firmeza.
Kali imediatamente focaliza seu amigo em sua mente, aponta seus braços para ele e fala: “Bhagya!”
Seria quase impossível para o cowboy se desvencilhar deste abraço mortal, no entanto, de alguma forma o aperto se enfraquece e o pistoleiro escorrega para fora da morte certa. Ele tem muita sorte mesmo.
Não se pode surpreender uma criatura multicefálica como uma Quimera e as duas heroínas são rapidamente notadas. O monstro gigante avança com seus chifres em riste. Wonder Amazon se prepara e recebe o encontrão. A amazona é arrastada por alguns metros; a mandíbula da fera ameaçadora à sua frente. A áspide que ela tem por cauda se prepara para o bote, mas uma rajada psicocinética do herói brasileiro impede que as presas venenosas acertem a heroína.
True Shot Jack é projetado contra uma árvore com a força do coice do monstro. Fabiano está com queimaduras graves e, por conta da dor, não consegue mais realizar manobras aéreas adequadamente. Wonder Amazon, então, agarra o pescoço da fera, a estrangulando e dificultando as baforadas letais. Agora é a vez de Kali segurar telecineticamente a cauda-serpente, impedindo que sua amiga seja atingida, mas a Quimera se liberta da manobra, jogando a amazona no chão.
True Shot Jack faz jus ao seu codinome e, se afastando alguns passos para um tiro verdadeiramente heróico, ele mira e atira com uma precisão cirúrgica. A Quimera é cegada e urra de dor, ficando atordoada.
Os quatro heróis se entreolham e atacam ao mesmo tempo.
Kali amaldiçoa a Quimera com seus feitiços agourentos e seus amigos conseguem visualizar melhor os pontos fracos no monstro. Wonder Amazon desfere um uppercut na mandíbula deste. Duplo-Etéreo lhe lança uma rajada psicocinética no dorso, ao mesmo tempo em que um tiro de True Shot Jack penetra-lhe o flanco. A criatura nem tem tempo de reagir e já está inerte no chão, desaparecendo em seguida numa névoa azulada e com cheiro de enxofre.
Todos estão cansados como o grande feito que realizaram.
“O que é isso na sua armadura, Wonder Amazon?” O olhar atento do pistoleiro percebe, ao se aproximar.
“Ah, isto? Uma menina me deu quando estávamos no Parque Olmsted.”
“Deixe-me ver.” E Kali segura a pequena flor branca em uma de suas mãos. “Você não acha que uma flor normal já deveria ter murchado depois de quatro dias? Isto aqui é uma Galanthus nivalis aeaea.”
“Erva Moly? Isso é impossível, Kali. Elas estão extintas há séculos. Circe mesmo as extinguiu.” Responde a amazona intrigada.
“E nós poderíamos saber o que é uma ‘erva Moly’?” Fabiano pergunta curioso.
“É a mesma planta que Odysseus usou para ficar imune aos feitiços de Circe.” Ela explica.
“Então foi isso que deixou os encantamentos de Medéia tão inúteis contra você. E Medéia é parente de Circe, não é?”
“Ela é sobrinha de Circe, Jack.”
“Conte-me melhor como isso ocorreu, Antíope.”
“Bem, Kali, eu estava com você e Richard no… Pelos deuses… RICHARD!”
Kali não pensa duas vezes e teleporta a todos para onde deixaram o detetive.
Ele está seguro ainda, está voltando à consciência.
“Richard, você está bem?”
O detetive responsável pela investigação sobrenatural e meta-humana do Departamento de Polícia de Boston não se lembra de quando ele abriu os olhos pela última vez e teve uma visão tão linda quanto a da amazona preocupada com ele.
“Sim, sim, eu acho. Ela me transformou e me fez beber o mesmo sangue utilizado para desenhar o círculo.”
“Provavelmente parte do ritual.” Kali interrompe. “Sinto muito que você tenha passado por isso, detetive.”
“Eu bebi sangue humano. Acho que era de um funcionário daqui. Pobre coitado.” Ele faz uma cara nauseada e está limpando a sua boca suja de sangue. Ele também sente o círculo cravado na sua pele se desvanecendo.
“Eu vou ajudar você a superar isso, querido.” E o sorriso sincero da heroína grega já está ajudando a confortar o rapaz.
“Crimson, resolvemos a situação aqui em Boston.” Kali se comunica no seu ponto auricular.
“Bom trabalho, heróis. No entanto, ainda temos muito que fazer: Um dragão despertou de um vulcão nas Filipinas e alguns super-vilões fugiram de Lockdown (Hell Shark e o General Totengeist entre eles). Os feridos serão teleportados para a sede e os restantes vão para as suas novas missões.” Crimson Guardian fala para todos em seus pontos.
“E eu pensava que curtiria ainda mais uns dias aqui na neve…” Fabiano desabafa.
Sem falar de ficar perto de uma gata como a Wonder Amazon… André fala na mente do irmão.
André, ainda estamos no elo mental, irmãozinho.
Droga!
XXX
EPÍLOGO
Duas figuras caminham lado a lado à beira de um lago congelado: um casal de crianças não aparentando ter mais de dez anos. Uma menina morena descalça e um garoto de cabelos loiros e cacheados.
“Você não deveria ter interferido, irmã.”
“Ela é nossa campeã, ora. Além do mais, você que deveria ter colocado uma ‘coleira’ na sua prole, irmão.”
“Não costumo interferir em assuntos mortais.”
“Nem eu, mas A Guerra é iminente e Antíope é peça fundamental nela. Uma das suas ‘especialidades’ é a profecia. Você já deveria saber disto.”
“Talvez você tenha razão. Só espero que nosso pai não descubra nada do que houve aqui…”
As imagens refletidas no lago não são de duas crianças, mas, sim, de uma mulher alta e linda que tem um arco cruzado nas costas e um homem belíssimo trajando uma brilhante armadura dourada.
Ambos continuam caminhando e desaparecem subitamente…
A Guerra dos Deuses continua em uma mesa de RPG perto de você…