O Sabre e o Blaster – Parte Final

Kalrana KorrNuma sala de observação, estão diversos agentes do Black Sun; todos em alvoroço e inquietos olhando os eventos a se passar nas câmeras de segurança espalhadas pela base. A constante nas imagens é a figura de um aparentemente jovem Togruta empunhando um Sabre de Luz azul, ora rechaçando hordas e mais hordas de tiros de blaster como quem afasta insetos incômodos de si, ora arremessando pelo ares portas de Durasteel com um movimento firme das mãos. A perseverança do avanço inexorável do Jedi é suficiente para aterrorizar todos na sala e uma cacofonia de expressões de medo e impaciência permeia o ar.

Uma arma de luz é ativada e ninguém ouve o som de uma das vozes desesperadas sendo silenciada até notarem o ruído de dois objetos caindo no chão: o corpo de um dos operativos (um humano) e sua cabeça recém-decapitada pelo Chicote de Luz de Kalrana Korr.

“Muito obrigado, srta. Korr.” Diz Mon Sundaar, entrando na sala e dando um longo e ferino olhar em todos. “Cada um de vocês é um funcionário treinado e muito bem pago. Controlem-se! Ou então…” e um intimidador estalo de chicote é ouvido.

Caminhando em direção dos monitores, o Vigo e a Bruxa de Dathomir trocam olhares receosos. “Você devia ter o matado também. Veja os danos que ele está causando em minha propriedade.”

Kalrana nunca admitiria em voz alta (e nem para si mesma) que o Jedi é mais poderoso que ela. Inconscientemente, ela passa a mão no seu ombro direito, quase deslocado pela força do golpe telecinético do Jedi em seu último encontro.

“Solte meus bichinhos nos corredores.” Ela diz.

“Excelente, srta. Korr.” Retruca o Vigo.

“M-mas, senhor? Temos ainda alguns de nossos guardas tentando conter o avanço do Jedi pelos corredores. As feras de Lady Korr não distinguiriam aliado de inimigo e… ARGH” o pobre operativo Devaroniano é suspenso no ar, colocando as mãos no pescoço como que querendo afastar um estrangulador invisível.

Com o braço esquerdo estendido na direção do operativo e com sua mão posicionada de uma forma como se apertasse um objeto, Kalrana se diverte usando o Sufocamento Sith mas, com um gesto de Mon Sundaar, ela o libera e ele cai no chão ofegante.

“Não é sábio questionar as ordens de um Vigo do Black Sun.” O Togorian age como se nada tivesse acontecido. “Prossiga. Libere as feras.”

XXX

Rama-Vatar nunca tinha se sentido em tanta sintonia com a Força como hoje. Seu sabre de lâmina azulada e a técnica Shien do Jedi defletem facilmente todo e qualquer tiro de blaster que tenta lhe acertar. Ao contrário do que se possa pensar de alguém lutando claramente em desvantagem numérica, o semblante de Rama é calmo e decidido. Um colosso irrefreável unido à Força. Há, sim, uma desvantagem e ela é dos agentes do Black Sun.

Shien não é meramente uma forma de defesa contra tiros de blaster (como a Forma III, Soresu), mas uma forma que preza o contra-ataque. Em um dos diversos corredores que Rama atravessa, todos os tiros da chuva de blasters é refletida de volta aos seus atacantes, porém um desses tiros, Rama escolhe atingir o ombro do operativo, apenas o incapacitando e o obrigando a largar seu rifle blaster. O indivíduo é levantado no ar e trazido para perto do Jedi.

“Você quer e irá me dizer onde eu posso encontrar o seu Vigo e a Bruxa de Dathomir.” O Jedi está em tamanha conexão com a Força que apenas o contato visual é suficiente para se usar o Truque Mental.

“Eu quero e vou lhe dizer onde pode encontrar quem procura…”

Depois de obter as informações, o Togruta atordoa o agente e segue na direção indicada.

Pouco depois, o Jedi não é recebido pelos já costumeiros tiros, no entanto há um corpo estendido no chão. Ao se aproximar, consegue discernir que é um dos agentes da organização pelas suas vestimentas. Seus braços estão quebrados e posicionados junto ao tronco, a caixa torácica está macia e facilmente compressível pelas várias fraturas, ele foi esmagado até a morte; sua face foi devorada de tal forma a não se ter como precisar qual a raça da vítima. A Força avisa Rama que ele não está mais sozinho. Adotando a postura básica do Shien, ele espera mais uma rajada de tiros de blaster.

Nada acontece.

Uma forte pancada acerta seu ombro direito e ele larga seu Sabre de Luz com a dor. A criatura o atacou por cima, do teto. Um bípede encurvado, robusto e encorpado, com quatro braços poderosos terminando em garras com polegares opositores, pelugem marrom escura e um olhar maléfico: um Gundark.

A fera, tida como uma das mais perigosas da galáxia, usou apenas um de seus braços para o ataque inicial; com os outros, ela agarra o Jedi e começa GundarKinstantaneamente a constringi-lo. Rama não consegue respirar e, quando pensa que seus problemas acabaram, é atingido por mais uma sequência de golpes por um segundo Gundark. Rama sente duas costelas se partindo no abraço mortal da fera ao mesmo tempo em que é mordido ferozmente nas costas. A outra criatura já está lhe desferindo mais ataques com seus quatro braços. O Jedi pensa em sua missão, em Dunia atingida por um Relâmpago Sith…

Ele, então, manipula a Força com maestria suficiente para criar uma esfera psicocinética subitamente expansiva emanando de si, que não só arremessa os dois Gundarks ao longe mas também destrói boa parte do corredor onde se encontram. A fera que estava agarrando Rama, além de forçada a libertar o Jedi, fica atordoada. O Togruta chama seu Sabre de Luz para sua mão espalmada e o ativa. O outro Gundark faz uma investida na direção do Jedi, que já assume sua postura Djem So.

Quatro braços com garras atingem apenas o ar e um contra-ataque perfeito de Rama decapita a fera. Já recuperado de seu atordoamento, o Gundark que tentava esmagá-lo, rosna furioso. Rama arremessa seu Sabre de Luz como um bumerangue e, antes de ele voltar para sua mão, separa o tronco da fera em dois. Ele não tem tempo para se recuperar de seus ferimentos e segue em frente.

XXX

Mon Sundaar conseguiu observar cuidadosamente o feitos do jovem (mas experiente) Togruta até o Jedi se libertar do ataque dos Gundarks de Kalrana e destruir as câmeras no corredor…

“Sele este aposento com as portas triplamente reforçadas com Durasteel. Nem mesmo um Sabre de Luz pode atravessá-las.” Diz a um dos operativos. “Srta. Korr, você sabe o que tem de fazer.”

O Vigo parece estar apressado e segura uma caixa de metal com um brasão em baixo relevo representando um réptil com chifres e diversas patas. Ele abandona a sala.

XXX

Um Togorian pensativo está sentado sozinho na sala dos monitores atento ao avanço incansável do Jedi. Ele fecha os olhos como se estivesse se concentrando. Finalmente, apenas uma porta o separa do Jedi. O Togorian sorri quando observa a tentativa frustra do Jedi em destroçar a porta usando a Força. Mais alguns poucos segundos e o mecanismo de liberação do potente gás venenoso estará ativo.

O Jedi liga seu Sabre de Luz e empala a porta com ele. Antes que o Togorian comece a rir de outra tentativa inútil, ele nota que o Sabre de Luz está atravessando a porta reforçada.

“MAS COMO?” Grita mais alto e agudo que pretendia. Um Sabre de Luz normal não poderia realizar tal proeza mas o Sabre de Luz de Rama não é mais um Sabre de Luz comum e um círculo incandescente começa a se formar através da porta reforçada. Tudo acontece muito rápido: o círculo incandescente é completo, o gás é liberado no ambiente onde está o Jedi, a tampa circular é arremessada pela Força, parte do gás começa a entrar na sala, um vulto atravessa a entrada circular na porta, o Togorian aciona os exaustores e o gás é sugado. Continuando seu movimento numa acrobacia, Rama já está preparado e olhando o Togorian.

“Você está preso, Vigo Mon Sundaar! Onde está a Bruxa de Dathomir?” Rama-Vatar potencializa a ecolocalização da sua raça com a Força mas não encontra nenhum outro ser vivente no aposento.

O Jedi percebe que a mão direita do Vigo segura alguma arma em suas costas. Um blaster pensa o Togruta e assume a postura Shien. Uma fração de segundo antes do ataque, Rama percebe uma pequena flutuação na Força. Um padawan ou um Cavaleiro Jedi inexperiente talvez não prestasse atenção nisto, mas não Rama. O Lado Negro floresce neste ser. Ele não é quem diz ou aparenta ser, e o Jedi muda sua postura para Djem So num reflexo que salva sua vida do Chicote de Luz vermelha que acertaria sua cabeça.

“Então você é uma transmorfa praticante da técnica Quey’tek?” raciocina o Jedi se referindo à técnica baseada em diversas formas de meditação que permite alguém esconder sua sensibilidade e poderes com a Força de outros indivíduos Força-sensitivos.

“Também não sabia que Bruxas de Dathomir eram transmorfas. Isto deixa as coisas mais claras”

“É uma habilidade rara em meu clã.” Diz enquanto muda para sua forma original.

“Onde está o verdadeiro Vigo?”

“Ele está seguro a parsecs daqui. Somos apenas eu e você para nos divertirmos, Jedi. A propósito, como está sua amiga Twi’lek? Morta eu suponho.” A Bruxa ri descontroladamente e ataca mais uma vez.

Rama sabe que ela tentando usar Dun Moch (a técnica usada por muitos Sith para atrapalhar na concentração dos Jedi durante lutas) para distraí-lo. Ele se lembra de como sua mestre Jali Tulang-Sul lhe ensinou a lidar com um utilizador de Dun Moch. Rama se concentra ainda mais para manter sua respiração compassada e ritmada com a batida de seu coração a fim de não se entregar à raiva e ao Lado Negro. Ele também possui um dom raro entre os Jedi: A Meditação de Batalha, uma manifestação da Força que aumenta a moral do Jedi e seus aliados (lhes mostrando onde e como melhor derrotar seus inimigos) ao mesmo tempo em que nubla a vontade de lutar dos adversários.

Rama, com um movimento de sua mão, usa a Força para tomar posse do braço esquerdo da Kalrana, fazendo seu pulso (com o bracelete) ir de encontro com o Chicote de Luz, o desligando no mesmo momento.

“NÃO!! COMO OUSA? MORRA, JEDI!!!”

Relâmpagos Sith brotam dos dedos da Bruxa, porém o Jedi resiste à maior parte do ataque e consegue o desviar para um dos lados do aposento, destruindo os monitores.

“POR QUANTO TEMPO ACHA QUE PODE CONTER MEU PODER, JEDI?” Grita em sua risada maníaca.

Rama sabe que não resistirá por muito tempo. A mente treinada auxiliada pela Meditação de Batalha faz o Togruta Jedi agir no momento certo e posicionar sua lâmina no ponto exato para interceptar o poder.

Relâmpago Sith e Sabre de Luz se tocam e se mantêm conectados. A Bruxa canaliza toda sua frustração e ódio para aumentar a potencia de seu poder.

“A… Força… luta… AO MEU LADO!” Com muito esforço, o Jedi volta toda força do ataque da Bruxa contra ela, a atingindo violentamente com seu próprio relâmpago.

O Jedi não pensa duas vezes. Um pulso telecinético agarra Kalrana e a aprisiona contra a parede. A Bruxa sente como se um Bantha a estivesse imobilizando. Rama pensa nos nobres de Tatooine assassinados, em toda a trama que essa Bruxa fez só para ganhar a confiança de um Vigo do Black Sun, Ele pensa em Dunia à beira da morte…Como seria fácil para Rama atravessar a carne macia da Bruxa indefesa com seu Sabre de Luz… Seus olhos encontram com os dela e… e ele entra em sua mente.

Durma! ele a sugestiona.

Ela resiste.

“Suas defesas psíquicas são formidáveis e se alimentam de seu medo e raiva e sofrimento, mas hoje a Força é minha aliada.”

DURMA! ele comanda mais uma vez, com muito mais intensidade e com a ajuda da Força.

Kalrana Korr cai no chão inconsciente e derrotada.

XXX

“Ela ficará bem, Rama.” Diz a voz profunda e firme da Nautolan chamada Jali Tulang-Sul.

“Eu sei. Foi você quem a tratou.” Sorri o Jedi em resposta.

Os dois Jedi observam, pelo Transparisteel da enfermaria, Dunia deitada e sendo acompanhada por dróides médicos.

Rama-Vatar“Qual será o destino de Dunia?” pergunta Rama. “Afinal, ela roubou as pérolas.”

“Ela não será presa, não se preocupe. Sua ‘pena’ será pilotar as naves em serviço do Templo Jedi pelo tempo que eu determinar. Está tudo arranjado com os Mestres do Conselho.”

Rama nunca deixa de se surpreender com a influência de sua antiga mestre no grande conselho.

“Seu desempenho na missão foi excepcional, Rama. Acho que está na hora de você compartilhar sua experiência com um Padawan.”.

“Sim. Eu ando observando uma certa Zabrak com muito potencial.” O Jedi secretamente desejar ser um mestre tão bom quanto a que teve. “E quanto à Bruxa?”

“Kalrana Korr, uma Irmã da Noite. Elas são um clã entre as Bruxas de Dathomir e ela é uma espécie de escolhida por conta de seus poderes transmórficos. Nossos interrogadores Jedi terão algum trabalho com ela.”

Ambos riem.

“Foi uma pena você não ter conseguido reaver as pérolas de Dragão Krayt”

“Eu tenho uma…”

Com a mão levantada, Jali interrompe. “Não. Ela é sua, você mereceu esta pérola.”

“Obrigado.”

Silêncio.

“Não acha coincidência, Mestre Sul, que o nome da minha forma de combate ser chamada de ‘O Caminho do Dragão Krayt’? E que agora eu tenho uma valiosíssima pérola deste mesmo Dragão no meu Sabre de Luz?”

“Não existem coincidências, Rama. Só existe a Força.”

XXX

A bordo de uma nave espacial, um ser caminha entre a tripulação. Todos mortos. Mortos todos por ele. Um macho corpulento, com crânio alongado e com pele enrugada. Quatro Sabres de Luz de cores diferentes estão ativados e flutuam no ar, sem nenhum Jedi os empunhando. Todos são controlados por este macho da raça Cerean. Um dos corpos no chão pertence a um Togorian segurando uma caixa de metal com um réptil em baixo relevo. Os olhos amarelados dele se focam na caixa, ele a pega e abre, encontrando doze pequenos nichos; apenas um deles não está preenchido por lustrosas pérolas negras.

Ele sorri sozinho, está cheio de energia, satisfeito e com desejo de vingança.

Fim… por enquanto.